A leitura de uma matéria que falava de um indivíduo que tirou nota dez na USP negando o holocausto judeu me indignou e com uma breve análise me senti na obrigação de palpitar sobre o assunto. A responsabilidade a respeito da visão da maioria da população sobre “holocaustos gerais” precisa ser revista sim! Não para negar, como fez este estudante financiado com dinheiro público, mas para aprofundar a questão e trazer à luz vários outros holocaustos que até hoje são praticados e negados pela ação midiática da burguesia dominante.
Este estudante apenas reproduziu, muito provavelmente, aquilo que o acompanhou durante sua vida inteira de ensino equivocado. Se ater a este ou aquele individuo que se posiciona favorável ou desfavorável a um fato que todos reconhecem é desperdício já que deveríamos questionar toda a estrutura. A questão é bem maior e mais ampla pois expõe a comunidade a filosofias ou posicionamentos que além de utilizar a estrutura pública para financiar suas idéias nazistas e fascistas praticam seus absurdos com apoio do Estado.
A maioria das ações de reintegração de posse e ações policiais para conter o avanço da violência em geral quase sempre me remete à atuação do exército alemão de Hitler que por razões econômicas e sociais matou.
Ainda hoje outros “holocaustos” estão sendo praticados no mundo e poucos sabem e se preocupam com o assunto. As próprias vítimas destes não têm a menor idéia dos motivos para tanta violência e brutalidade.
Nos últimos dias foi noticiado um “holocausto negro” no Brasil apontando a violência contra jovens negros e apenas poucos veículos de comunicação deram a informação de forma correta. O Sistema midiático brasileiro funciona de forma parecida com o alemão do “Terceiro Reich”; noticia-se o que se quer com a opinião que interessa aos poderosos. A maioria fez uma exibição sutil e continuou sua programação como se esta informação não tivesse importância alguma.
Realmente para os fãs do “Datenismo” essa matança de negros não é um “holocausto”. A morte de trabalhadores em construções de obras públicas e privadas também não é “holocausto”? A morte de nordestinos na seca por desvio de dinheiro público não é “holocausto”? As mortes nas filas de hospitais públicos não são “holocausto”?
Estes são apenas alguns assuntos para a longa discussão que se deve fazer sobre holocausto. O número de mortos nestas situações e os períodos onde ocorreram e ocorrem estão aí; analise você também.
Não estou aqui dizendo que não se deve defender a memória do holocausto judeu, mas que deveríamos discutir todos com a mesma ênfase e sistemática, não possibilitando que idéias como as deste estudante da USP ou como as dos comentaristas de segurança da grande mídia fossem veiculadas sem uma análise séria. Independente da forma como se mata, com gás, ou com tiros, é hecatombe e esta quase sempre vem acompanhada de justificativas políticas ou sociais absurdas.
Durante nossa história acompanhamos vários “holocaustos” e todos estes quase sempre negados pela versão oficial. Sabemos que a USP é um dos maiores redutos de resistência às idéias autoritárias, fascistas e nazistas, mas sabemos também que esta mesma USP representa a burguesia, já que nela estão também os filhos dos ricos que exploraram os “holocaustos” brasileiros e através destes saques contra índios e negros principalmente, fizeram suas fortunas.
A minoria de pobres que ‘fura o bloqueio’ e frequenta a USP tem de ficar alerta com estas colocações “acadêmicas”. De “holocausto” em “holocausto” a burguesia simpatizante da forma estadunidense de matar para atender seus interesses vai escrevendo a história do mundo com suas versões.
(João Wilson Guevara, especial para o Fato Expresso)