Allan Robert P. J.
Nunca entendi bem por que homens devem usar gravata. Compor a camisa, evitando que esta fique aberta revelando parte da intimidade masculina não chega a ser uma explicação aceitável (tradições nem sempre são coerentes), nem chega a ser um cachecol, usado para proteger do frio. Por outro lado acho interessante a capacidade humana de transformar tudo em moda, recriar um acessório, transformá-lo em pequenas obras de arte, …e cobrar uma fortuna por isso.
[Quem pensa que pizza é difícil de fazer, nunca tentou. A pizza Margherita é um clássico não só na Itália. Anote a receita:
Pizza Margherita:
Massa:
400 g. de farinha
20 g. de fermento para pão
Sal
1 copo d’água morna]
Também não entendo porque alguém usa cachecol apenas como acessório de moda, sem enrolá-lo no pescoço, ficando desprotegido do frio. É como se alguém caminhasse carregando os sapatos nas mãos. Cachecol tem uma função. Ou deveria ter, na minha cada vez mais ranzinza visão.
[Em uma bacia, coloque a farinha formando um pequeno vulcão. Dissolva o fermento na água morna e adicione-o à farinha. Junte uma pitada de sal. Misture bem e amasse sem bater. Quando a massa estiver homogênea, faça uma cruz no centro com uma faca – para ajudar na fermentação – e cubra com um pano limpo. Deixe descansar por uma hora, uma hora e meia.]
É comum, em dias de jogo na Itália, ver uma multidão usando cachecóis com as cores dos times. Ficam todos lá, cobertos da cabeça aos pés e o cachecol do time cobrindo a face. Só os olhos ficam de fora. Mais curioso ainda é a rebeldia coletiva que domina os italianos e a tentativa de ser mais criativo que o resto da humanidade. Homens de ternos sóbrios e cinzas descem dos trens com longos cachecóis amarelos, brancos ou vermelhos. E nos dias de festa nacional, cachecol com as cores da bandeira, o Tricolor.
[Recheio:
200 g. de mozzarella de búfala
100 g. de tomate sem pele e sem sementes
Sal
Manjericão
Azeite de oliva extra virgem]
Não deixa de ser criativo o modo como cada um tenta compor o próprio cachecol. Alguns o mantém jogado displicentemente sobre os ombros, sem dar uma volta à frente do pescoço. Outros, escolhem o cachecol mais comprido que encontram (não posso crer que não sejam feitos sob medida) e o enrolam em dezenas de voltas no pescoço. E tem os que costumam dar nós, como se fossem enormes gravatas. No inverno passado reparei um nó que me pareceu novo: dobre o cachecol ao meio, passe-o em volta do pescoço e, à frente, enfie as duas pontas no laço que se forma. É prático e não fica se desfazendo.
[Enquanto a massa descansa, acenda o forno e deixe-o à temperatura de 220 ºC. Amasse com um garfo os tomates e adicione uma pitada de sal. Corte a mozzarella em cubinhos, lave e enxugue as folhas do manjericão. Quando a massa estiver no ponto, amasse-a de novo, espalhe um pouco de farinha sobre a mesa e abra-a com um rolo de macarrão. Coloque-a na forma de pizza levemente untada com azeite, ajeite-a com os dedos até que a assadeira fique completamente coberta. Com uma colher, espalhe a polpa de tomate sobre a massa, adicione a mozzarella, um fio de azeite e algumas folhas de manjericão. Espalhe bem os ingredientes, deixando a pizza bem colorida. Leve ao forno e deixe até a borda da massa dourar. Sirva com um copo de vinho ou uma cerveja gelada. Abra uma pizzaria e fique rico.]
Uso os meus curtos e discretos cachecóis no modo clássico, enrolados com apenas uma volta no pescoço e caídos sobre o peito. Protege do frio e não me sinto cobaia de algum estilista bizarro. Talvez nem combine com as duas princesas que acabam de entrar na sala, enroladas em enormes cachecóis coloridos, que me oferecem beijos gelados do frio da rua e transformam a casa numa algazarra deliciosa. Talvez a minha rabugice seja apenas o sintoma da dificuldade em aceitar o frio do Outono.
Quer saber? Vou botar um cachecol e sair pra comer uma pizza.
**Allan Robert P. J., carioca de nascimento, tem 51 anos, viveu em Embu (SP) por quase duas décadas e lá se casou com Eloá, em 1987. Mudou para Salvador (BA) onde estudou Economia e o casal teve duas filhas. De lá, foram para a Itália, onde vivem atualmente. Allan é micro empresário do ramo automotivo, e Eloá trabalha no ramo de alimentação. Ambos têm raízes (amigos e parentes) na ‘ponte’ Embu-Assis-SP. Allan é irmão dos advogados Bruce P. J. e Dawidson P. J., radicados em Embu. Dawidson já foi do primeiro escalão da Assessoria Jurídica da Prefeitura de Embu no governo Geraldo Puccini Junior (1993-96), e ambos já participaram da diretoria da subsecção da OAB de Embu”.