Allan Robert P. J.
Osvaldinho tinha um escravo. O escravo de Osvaldinho era seu motorista, guarda-costas, servo, companheiro e babá dos garotos de rua que Osvaldinho recolhia em sua casa. Certa vez impediram Osvaldinho de entrar em uma boate. O leão de chácara disse:
– Desculpe, doutor Osvaldo! Recebi ordens de não deixá-lo entrar.
Osvaldinho, contrariado, ordenou:
– Escravo, dê um soco nele!
O escravo de Osvaldinho, um metro e setenta, uns setenta quilos e muito mais maluco que o patrão, não esperou uma segunda ordem e deu o soco no grandão. Osvaldinho ainda tentou proteger o escravo e acabou, também ele, levando uns safanões. Entraram na Mercedes e sumiram na noite. Terminaram a madrugada em uma delegacia, por terem despejado dois galões de pixe na enorme porta de madeira da boate, antes de atearem fogo.
Osvaldinho gostava de fazer coisas esquisitas. Osvaldinho era esquisito. Decidiu correr toda manhã, mas tinha preguiça. Acordava o escravo e mandava-o ir de carro atrás. Quando cansava, entrava no carro e continuava o passeio. Uma madrugada, cansado do cooper, decidiu entrar no carro e disse que queria dirigir. Como não pegava bem ter o escravo como passageiro, mandou-o ir a pé, correndo atrás do carro. Rodou outras duas horas, seguido pelo escravo, que não tinha porte atlético e ainda levava pelo corpo as marcas de uma surra da noite anterior. Osvaldinho dizia que o importante era dar o primeiro soco e o escravo vivia apanhando na rua. “Escravo, bate nele!”
Adorava quando forravam a Rua Augusta com carpete, antes do Natal. Pegava um cavalo e ia dar umas voltas sobre o carpete colorido. Certa vez estacionou um Porsche dentro do saguão do aeroporto de Congonhas, meteu as chaves no bolso, pegou um avião e partiu.
Osvaldinho sempre arrumava confusão. Quando passava dos limites, esqueciam a influência da família rica e o punham pra fora. A família pagava pela distância de Osvaldinho. Em alguns locais ele simplesmente era proibido de entrar. Osvaldinho se vingava. Foi numa dessas que Osvaldinho teve a idéia que mais me divertiu. Proibido de entrar no fechadíssimo e elitizado clube por dois meses, Osvaldinho reuniu a molecada que ele abrigava em sua mansão, ordenou ao escravo que comprasse um lote de Sonrisal e sacos de estopa. Com ajuda dos meninos e do escravo, Osvaldinho encheu alguns (alguns!) sacos de estopa com o Sonrisal devidamente livre do invólucro, alugou um helicóptero e jogou os sacos dentro das piscinas do clube, numa ensolarada tarde de domingo.
Mas como até mesmo a magia dos loucos é insuficiente para driblar a fatalidade, nem o escravo conseguiu livrar Osvaldinho da morte. Morte natural. Coisa esquisita para um sujeito esquisito como Osvaldinho. Mas o escravo continua vivo. Com a morte de Osvaldinho, o passe do escravo foi disputado a tapas.
**Allan Robert P. J., carioca de nascimento, tem 51 anos, viveu em Embu (SP) por quase duas décadas e lá se casou com Eloá, em 1987. Mudou para Salvador (BA) onde estudou Economia e o casal teve duas filhas. De lá, foram para a Itália, onde vivem atualmente. Allan é micro empresário do ramo automotivo, e Eloá trabalha no ramo de alimentação. Ambos têm raízes (amigos e parentes) na ‘ponte’ Embu-Assis-SP. Allan é irmão dos advogados Bruce P. J. e Dawidson P. J., radicados em Embu. Dawidson já foi do primeiro escalão da Assessoria Jurídica da Prefeitura de Embu no governo Geraldo Puccini Junior (1993-96), e ambos já participaram da diretoria da subsecção da OAB de Embu”.