Num daqueles dias em que se chega cansado do trabalho e tudo o que se quer é relaxar, descobri que precisava de um chopp. Não uma cerveja, que essa tem sempre em casa, apesar de beber cada vez mais raramente, mas um chopp. O chopp é mais leve que a cerveja, mais fresco e naquele dia eu precisava de um chopp. Desci e só fui encontrar no quinto bar, apesar de quase todos possuírem a torneirinha de chopp sobre o balcão. O barista – que na Itália é como se chama o balconista de bar – me explicou que o consumo de cerveja cai durante o Inverno e muitos bares optam por suspender o produto, passam a oferecer cerveja em lata ou garrafa, evitando que o chopp envelheça antes de ser consumido. Tomei meu chopp e voltei para casa pensando na quantidade de produtos que sofrem a sazonalidade.
Não só o chopp que desaparece neste período, mas as propagandas de cerveja também. Paradoxalmente, tem muita publicidade de cruzeiros e praias ensolaradas. São as ofertas de viagens aos países de clima quente: Egito, Marrocos, Tunísia, Cuba, México… E o Brasil, nada. Apesar das sorveterias funcionarem o ano inteiro só com sorvete – na maioria delas, pelo menos –, é claro que os novos lançamentos irão esperar o início do verão, quando irão substituir os chocolates, que abundam nessa época para desaparecerem em Agosto.
A maioria das frutas só é encontrada na estação certa. Os meus caquis acabaram, mas em compensação os cítricos dominam as feiras e bancos de supermercados. E não tem conversa, acabou o Inverno, as laranjas vão apodrecer que ninguém irá comprar. “’Magina! Essa laranja vem da Africa do Sul. Quem sabe como eles cultivam laranja por lá?” Mas enquanto fizer frio ninguém olha etiqueta de laranja, tangerina, mexerica, pompelmo (torange ou grapefruit) ou outro cítrico qualquer: é Inverno, tempo de laranja e de parques de diversão fechados – já imaginaram montanha russa a 15 graus negativos?
Refletindo bem (afinal, foram só dois chopps) tudo gira em torno das estações. O consumo de salames e alimentos gordurosos é alto no Inverno; as vendas de bicicletas aumentam na Primavera; Setembro é o mês com o maior número de casamentos, para permitir uma lua-de-mel em uma praia mais tranquila; as novas séries de tv são lançadas com o fim do Verão e vamos aprendendo a esperar a estação certa. Mas, laranja…
Algumas chatices nos acompanham o ano inteiro e não dão um respiro nem com reza brava, como futrica política e fofocas sobre famosos, dois assuntos que italiano gosta de manter atualizados. Mas não seria melhor conversar/discutir/fofocar em uma rodada de chopp?
Allan Robert P. J., carioca de nascimento, tem 51 anos, viveu em Embu (SP) por quase duas décadas e lá se casou com Eloá, em 1987. Mudou para Salvador (BA) onde estudou Economia e o casal teve duas filhas. De lá, foram para a Itália, onde vivem atualmente. Allan é micro empresário do ramo automotivo, e Eloá trabalha no ramo de alimentação. Ambos têm raízes (amigos e parentes) na ‘ponte’ Embu-Assis-SP. Allan é irmão dos advogados Bruce P. J. e Dawidson P. J., radicados em Embu. Dawidson já foi do primeiro escalão da Assessoria Jurídica da Prefeitura de Embu no governo Geraldo Puccini Junior (1993-96), e ambos já participaram da diretoria da subsecção da OAB de Embu”.